quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Filhos da Corrupção # 04 - Legião



Alheio a sonhos. Alheio a acontecimentos marcados pela passagem do tempo estava um corrompido, do esquecimento, sentado em um a pedra. Sob sua cabeça um céu púrpura de nuvens negras trovejantes e dois olhos do tamanho de sois, um negro que espalhava trevas para todo lugar que focalizava sua visão e outro branco que espalhava a luz.
Abaixo da pedra um chão árido e frio que já presenciará inúmeras batalhas pelo destino do universo. Por esse mesmo chão um anjo asiático com tribais azuis pelo corpo caminhava em direção ao corrompido em cima da pedra. Esse “anjo” era um virtuoso da paz conhecido apenas como Krayamon. Em sua mão direita ele carregava uma foice com um sino preso na ponta por uma cordinha. Ele conseguia andar sem que o sino tocasse.
-- A hora está chegando – disse Krayamon para o corrompido que indiferente o contemplava de cima da pedra. – Você nem deve lembrar-se de nossa última conversa a três dias atrás não é?
-- Me lembro sim – disse o corrompido sem expressão alguma em seu rosto. Certamente porque rosto era uma coisa que corrompidos do esquecimento não possuíam desde o momento em que se tornavam entais.
-- Isso é bom. Mas como conseguiu guardar a memória? A entalhou com uma faca em seu corpo?
-- Não. Apenas estou há três dias sem dormir.
-- Gosto de ver um corrompido lutando contra sua natureza.
-- Não é isso, apenas não dormi para te poupar o trabalho de me explicar novamente tudo que queria. Claro que depois que eu dormir vou esquecer tudo isso. Tudo não passará de uma grande bobagem como a existência em si. Mas nós somos Legião e simplesmente nós não nos importamos muito.
-- Eu ainda irei entender por que você se refere a sim mesmo no plural. Bom, entalhe o nome do corrompido que deve encontrar e fazer esquecer a própria existência.
-- Você está com o colar?
-- Estou sim. Não foi fácil consegui-lo para você – disse Kraymon tirando um pequeno elefante feito de esmeralda preso em um barbante. Um colar aparentemente medíocre que emitia um brilho fascinante.
-- Com esse colar não precisarei entalhar mais nenhuma memória em meu corpo. Apenas me de e nós completaremos a missão que nós pede.
-- Por via das duvidas gostaria que estalha-se a missão mesmo assim.
-- Tudo bem – disse Legião tirando uma faca de osso da cintura e entalhando em seu braço a inscrição: apagar... – Qual o nome de minha vítima?
-- O nome de sua vítima é Drexler.
-- Considere feito – disse o corrompido entalhando Drexler em seu braço. – Considere a missão dada como cumprida.
-- Aqui está o seu colar. E lembre-se que essa missão é extremamente perigosa e difícil. Boa sorte em sua busca. – disse Krayamon após entregar o colar. Ele abriu suas asas e foi embora voando baixo. Era o começo de mais um dia 56hs e ele queria aproveitá-lo para encontrar outros que pudesse mandar atrás de Drexler. Sabia que Legião tinha uma ínfima chance de ser bem sucedido, mas era uma aposta valida e ele tinha que arriscar essa possibilidade pelo bem de todos os seres viventes do universo.
Legião, desconhecendo o tamanho da encrenca em que se encontrava fez a coisa mais sensata que alguém pode fazer quando está procurando alguém em um lugar muito grande: ele se sentou em cima de sua pedra que ficava em um lugar bem visível e esperou que Drexler viesse até ele. Poderia levar dias, meses, anos ou séculos. Mas agora ele tinha o colar esmeralda. Legião tinha todo o tempo e memória que precisava.

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