sexta-feira, 19 de abril de 2013

CONTO - O DIA EM QUE O CÉU CAIU


Aqui mais uma vez quem fala é o amigo do planeta: Guerrilha. Deve pensar que já que sou amigo do planeta sou automaticamente seu amigo, certo? Bom, morar no planeta não te faz automaticamente meu chegado porque no momento o mundo está cheio de idiotas que acreditam que os recursos naturais são infinitos. Se você é um desses idiotas mesquinhos que apenas sugam o sangue da natureza e devolvem lixo, contaminação e devastação eu posso afirmar que você não é meu amigo. Na verdade é mais um de meus inimigos. Mas fique tranqüilo! Não vou invadir sua casa na calada da noite e te transformar em adubo, bom, pelo menos não enquanto eu tiver inimigos maiores para enfrentar.

Se essa é a primeira vez que entra em meu blog deve estar se perguntando quem sou, de onde vim e como pretendo salvar o planeta a qualquer custo, correto? Ok! Como já é um pedido antigo hoje vou responder primeiramente a pergunta: de onde vim.
Nasci em uma pequena cidade rural chamada Oranja localizada a 50km de Omini City. Uma típica e pacata cidade com pouco mais de 10.000 habitantes que vivia basicamente da exploração da monocultura de laranjas. Meus pais eram catadores de laranja então não tive nenhum dos luxos das crianças ricas, mas pude ter a rara felicidade de brincar em meio à natureza com os amigos, nadar em lagoas e aproveitar um pouco do verde que ainda sobrevivia às plantações que cada vez exigiam mais e mais terrenos devastados de suas matas nativas.
Fui uma criança normal, infelizmente não posso dizer o mesmo de minha adolescência. Era no mês do coelho,  tinha 12 anos na época, eu estava em uma excursão da escola em uma fábrica de laranja durante o dia em que o céu caiu.

“Dia em que o céu caiu” foi como passamos a chamar o evento dos meteoritos que varreram todo o Planeta Gênesis. Lembro claramente desse dia, pois um desses meteoritos caiu na fábrica na qual estava. Por sorte ninguém teve ferimentos fatais e eu consegui até mesmo levar um fragmento do meteorito para casa.
Tudo em minha vida mudou depois disso. Como devem saber algum dos iluministas acreditam que nosso mundo mudou por conta da radiação desses meteoritos que alterou a matriz genética de alguns “felizardos”(as aspas é por conta das milhares de crianças deformadas e natimortos que nasceram depois desse evento). Eu já não tenho tanta certeza sobre essa explicação, já que ao meu ver os meteoritos poderiam apenas ter sido o gatilho que disparou a mudança, podem ter despertado, ao entrarem em nossa atmosfera alguma coisa diferente na natureza que nos alterou, bom, ninguém tem muita certeza de nada ultimamente e não serei eu o dono dessa verdade. Mas do que eu estava falando mesmo? Ah é, da mudança que sofri a partir daquele dia. Foi estranho, de inicio eu comecei a ter pesadelos estranhos onde eu sonhava conversar com o cactus que ficava na janela do meu quarto, já acordado, enquanto eu caminhava para o colégio, eu podia jurar que as arvores tentavam me dizer algo ao som do farfalhar de suas folhas. Foram dias estranhos. Eu que era vegetariano, passei a preferir comer carne só para evitar contato com as plantas, vivas ou mortas.

Anos de estranhezas se passaram até o fatídico dia em que me o diretor entrou na sala de aula para avisar que meu pai tinha falecido enquanto colhia laranjas. Ataque cardíaco, disseram. Mesmo meu pai sendo um exemplo de saúde. Na época, com 17 anos de idade,  eu não engoli muito essa história, mas o que um garoto pobre com delírios poderia fazer? Não podia fazer nada além de suspeitar, mesmo assim um dia matei aula e fui até o lugar que encontraram meu pai. Nesse lugar, em meio ao laranjal, pela primeira vez em anos me permiti escutar o que as plantas tinham a dizer. E por maior loucura que tenha parecido, elas me contaram a história de dois capangas da fábrica que derrubaram meu pai da escada e que nele injetaram fertilizante puro. 

Devem estar pensando como as plantas me contaram isso não é mesmo? Plantas não falam da mesma forma que nós, elas não tem boca ou telepatia, mas consigo de alguma forma captar sua emoções e imagens que elas presenciaram e que estão dispostas a compartilhar, por isso digo que elas “conversam” comigo. Nessas imagens com sons meu pai dizia não a uma proposta de acordo com o dono do latifúndio.  Meu pais estava convicto a processar a fábrica junto com seus amigos de cooperativa por algum motivo que ainda desconhecia. Mas como ele não pode ser comprado, acabou silenciado.
As plantas também me contaram que elas vinham sofrendo muito com o solo cada vez mais exaurido, com o uso de adubos sintéticos e fertilizantes agressivos. Acres a perder de vista que ocupavam 95% da cidade estavam contaminados e a única pessoa disposta a denunciar isso estava morta. Alguém tinha que fazer alguma coisa.

O resto é história é conhecida por todos que ligaram a TV nessa época. Misteriosamente um a um, os donos da fábrica foram encontrados mortos em suas casas depois de receberem uma exótica e exuberante plantinha do mundo antigo chamada bronquia. Plantinha essa que gentilmente pedi que transformasse todo o oxigênio do ambiente em gás tóxico. Isso é uma confissão? Ah sim! Fiz isso com muito orgulho! Orgulho igual ao do dia que fiz com que várias raízes destruíssem os tratores da fábrica. Com o tempo fui dando tanto prejuízo para o latifúndio, que os novos donos consideraram o negócio improdutivo e o venderam a preço de banana para a cooperativa que hoje explora o cultivo de laranja, e de outras culturas de forma orgânica e com respeito ao meio ambiente.

Minha mãe hoje ajuda a administrar e cooperativa e vive bem. Quanto a mim cruzo o globo em guerra contra todos aqueles que não respeitam Gênesis.

Mas e quanto aos outros meta-humanos que se revelaram nesses últimos meses? Bom, vou ser bem sincero, nenhum deles ainda foi capaz de despertar meu interesse. Acho que eles estão ocupados demais tentando ser mais extravagantes que os outros. Todos possuem grandes poderes, mas a maioria só pensa em si mesmo ou se dedica a causas pequenas. Talvez eu esteja errado, caso eu esteja sendo injusto e você seja um desses que acreditam estar fazendo a diferença, por favor, entre em contato comigo para que eu possa conhecer um pouco mais sobre você. Mas fica a dica para aqueles que tentarem me armar uma cilada: sou como a natureza, posso ser agredido, explorado e devastado, mas sempre dou um jeito de voltar e me vingar de meus agressores.

Hoje o eco-terrorista Guerrilha encerra por aqui. Semana que vêm conto mais sobre mim e sobre as coisas incríveis em pró da natureza que vou realizar na maior cidade do mundo: Omini City

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