sábado, 16 de janeiro de 2010

O diário de Sadiel # 01 - Querido diário

Há muito tempo parei de perguntar o porquê das coisas. Elas simplesmente acontecem e não nos cabe ficar parados tentando entende-las. Não que eu esteja muito ativo nesse momento, mas se você estivesse em meu lugar agiria de forma diferente? faria algo além de gritar, chorar ou simplesmente morrer?
Em que estado me encontro? Sólido em maior parte... mas o líquido vermelho escorre. Ah! Não sei como descrever a sensação da vida se esvaindo de mim. Acho que a palavra "belo" não se aplica nesse caso. Afina é muito mais prazeroso quando o sangue em minhas roupas não é o meu.
Escondido nesse uterino porão eu espero que meu algoz termine oque começou. Claro que não sou uma presa fácil e para realizar seu nobre intuito ele terá que me encontrar antes. Enquanto brinco de esconde-esconde com a morte vou aproveitar para preenche-lo, meu querido diário.
Sei que por muitos anos eu o negligênciei. Te usava apenas para escrever alguns poemas esparsos. Apesar de sempre carrga-lo em minha mochila, nunca tive vontade de transfigurar suas páginas puras e brancas com minha doentia história. Não que eu considere algo que já tenho feito como doentio, mas voc~e, assim como o resto do mundo, deve me julgar um monstro louco. Bom, não importaagora que comecei a preenche-lo devo continuar. Da mesma forma que minha navalha corta: devagar e constantemente.
Meus psiquiatras ficariam orgulhosos em me ver fazendo esse exercício de exteriorização. Tá certo que não podem mais se dar ao luxo de sentir nada porque cometeram o grande erro de se tornarem meus amigos.
Você deve saber que eu sou uma pobre alma amaldiçoadaa não ter amigos. Quando os laços de amizade se forma eles sempre passam a me odiar no dia seguinte. Ciente disso jamais permito que eles vejam o dia seguinte.
Veja só, estou falando de coisas que não devem lhe fazer o menor sentido não é meu querido diário?
Talvez seja melhor que eu comece a partir de minha infância não é? Assim talvez você compreenda como me tornei o que sou hoje e quem sabe até tenha pena de mim. Af! Como se a opinião de um amontoado de folhas, dobradas, dispostas em cadernos, costuradas e envolvidas em uma capa de couro, infelizmente não humano, importa-se! Mas nesse momento você é o único que tenho para me escutar. O único que não preciso temer que se torne meu amigo.
Viu? Estou fazendo novamente. me perdendo. mas antes que minha mente entre em outra espiral negra eu gostaria de finalmente iniciar o breve relato de vida que me fez terminar sangrando nesse porão úmido, apertado e escuro.

No próximo capítulo: Uma infância de contos de fadas

0 comentários: