terça-feira, 19 de abril de 2011

ISSO NÃO É UM CONTO DE FADAS

Por onde eu deveria começar? Se é que eu deveria começar alguma coisa. Tem dias que o verbo me cansa. Em dias assim eu desejo apenas o silêncio e a tranquilidade de um quarto escuro. Talvez essa seja a única coisa que acalme meus nervos. Alias nem sem por qual motivo eu fico nervoso já que ultimamente eu não consigo me importar com nada nem ninguém.
Se eu sou tão pateticamente deprimido assim, você deve pensar porque eu não me matei ainda nao é? Já pensei nisso inumeras vezes. Eu até escolhi as formas mais interessantes para me matar. Uma delas consistia em me acorrentar no meio de uma densa floresta. Me prender com cadiados sem chave e lá ficar até que a fome e a desidratação me levassem. O lugar seria tão isolado que nenhuma alma viva faria o "favor" de me salvar. Claro que fiquei só no campo das idéias. Sempre que eu bolava uma nova forma de por fim a minha solidão eu desanimava e perdia a vontade de faze-lo. Pelo menos eu acho que era por esse motivo. Talvez em meu amago eu tivesse alguma esperança tola de recobrar minha alegria e vontade de viver. Duvido muito! Boto mais fé na  promessa que eu fiz. E eu posso não ter motivos para sorrir mas ainda tenha minha palavra!Calma que eu já chego na promessa.
Acredite ou não eu já fui a criatura mais alegre e sorridente de meu mundo. Nada era capaz de abalar meu dia. As outras criaturas de Faeria passavam por mim e tinham seus dias enriquecidos pela simples visão do meu sorriso. Era amigos de todos, amavel e feliz. Engraçado é que mesmo em meus dias atuais eu consigo lembrar daquela sensação de felicidade. Era como uma energia subindo do meu ventre e espalhando por todo meu corpo. Era quente, amiga e sempre me deixava pensando que a vida era bonita e é bonita, e que eu não deveria ter a vergonha de cantar e ser feliz como um eterno aprendiz. Uma bobagem do tipo. Hoje em dia o mais próximo que chego disso é com  minha prisão de ventre. 
Mas voltando a minha história de alegre criatura do reino encantado da fadas. Um belo dia, a uns dez ou vinte anos atrás, não sei ao certo já que nunca fui muito ligado em datas, eu estava brincando perto da fronteira de meu reino com o mundo dos homens. Naquele dia eu estava perto do véu e olhando através dele vi a mais bela e pura menina de todas! Era humana mas podia jurar que eu enxergava uma aura de fada nela. Eu fiquei admirando-a por dias até que em certo momento eu devo ter chegado muito perto do véu e ela acabou retribuindo um de meus olhares com um sorriso. Nesse momento deixei minha timidez e dei meu primeiro "salto" através do véu e entrei em seu mundo. Queria conhece-la e ser seu amigo. Queria pular em poças d´água com ela em dias de chuva.  Correr entre as flores e escutar as engraçadas histórias de seu livro colorido sobre fadas, princesas e carruagens de abóboras. Todos esses absurdos.
Com o tempo eu realizei todos os meus desejos. Nos tornamos amigos inseparavéis. E eu descobri que ela era uma princesinha amada e respeitada em todo seu reino. Um dia ela disse que seu pai o rei estava atrás de um Harlequim para sua corte. Ela disse que essa era minha oportunidade de ir morar perto dela para que nossa amizade pudesse ficar ainda mais forte. Não sabia na época que Harlequim era apenas um bobo contratado para diversão alheia, mesmo assim vi aquela oportunidade de ouro e a agarrei como as sete maçãs que usei em meu show de malabarismo na seleção. Graças aos meus dotes naturais consegui ser aceito e entrei para a corte.
No começo tudo eram flores e com meu talento consegui levar minha alegria para aquele reino. Mesmo longe de casa eu estava feliz porque eu estava ao lado dela. Assim dias se transformaram em anos como em um passe de mágica. Ambos já eramos adolescentes e quando nossa amizade começou a se tranformar em amor um evento marcou para sempre nossas histórias: Cedric, o Segundo, retornou do clero. Ele aparentemente era o filho mais novo do rei, que havia sido enviado para a igreja para se tornar clérico. Mas segundo boatos ele era tão mesquinho e cruel que acabou sendo expulso. O rei não sabia oque fazer com ele já que havia decidido que sua filha iria governar seu reino quanto completasse 18 anos. Isso era inedito, já que o filho homem é que sempre ficava com esse previlégio. Mas o rei bondoso e sábio sabia que o melhor para todos era sua filha reinando. Era um fato inedito mas ele estava disposto a arcar com essa quebra de tradição. Estava disposto a qualquer provação, infelizmente a maior delas foi quando sua filha desapareceu. O rei não entendia porque sua filha havia desaparecido logo após a chegada de Cedric, até mesmo supeitou dele, mas o mago da corte, Harus, o havia feito acreditar na inocência de Cedric. Mas para isso o mago, de conluiu com Cedric, precisavam de um bode expiatório. Adivinhem quem foi o escolhido? Eu!
Acabei sendo alvo de um encantamento de Harus que me impedia de usar minha habilidade natural de "saltar" (me teleportar) e fui aprisionado nas masmorras do castelo. Até minha chegada lá o lugar era bem vazio e nada assustador. Mas com o tempo o lugar foi ficando lotado de pessoas que ousavam questionar o futuro rei: Cedric! Sim, com o desaparecimento de sua irmã seu pai teve que começar a sucessão em nome de seu filho. para infelicidade minha e de todo o reinado. Acredito que eu tenha ficado nos calabouços sendo torturado por anos e anos. Mas me mantive forte e são porque eu tinha esperança que a princesa retornasse e conserta-se as coisas. Mas ela nunca voltou.
Devido ao meu contato com os humanos eu estava envelhecendo e aparentava ter quase trinta anos humanos. Muito mais se levassemos em conta o desgaste fisico e mental das torturas que eu era submetido todos os dias pelo carrasco que eu havia batizado de "Amigo do Capuz Encardido". Nessa época Cedric finalmente conseguiu que seu pai, que havia desistido de esperar, o nomeasse rei. O meu amigo carrasco me disse, enquanto esticava meus braços e pernas em uma roda de madeira, que a celebração aconteceria logo a noite. Eu até pensei em impedi-la. Mas minha vontade já estava quase completamente destruida naquele momento. Por sorte, ou azar, tudo depende do seu ponto de vista, naquele mesmo dia Cedric desceu ao calabouço e foi até uma cela que ficava isolada em um canto da masmorra. Eu pude ouvir sua conversa e com todas as letras ele disse:
-- Logo eu serei o rei minha irmã! Você e todos aqueles que já te apoiaram estão apodrecendo nesse calabouço. Mas não se preocupe. Depois dessa noite eu não vou precisar mais mante-los vivos. Com minha coroa eu estarei acima do certo e do errado e poderei finalmente por fim em suas existências patéticas! NÃO VIRE SEU ROSTO DESFIGURADO! OLHE PARA O FUTURO REI! DESSE E DE TODOS OS MUNDOS!!
Sim. Ele estava falando com ela! Todos esses anos e uma parede de pedras suja de sangue e excrementos era tudo que nos separava! Aquele era o momento que eu devia agir. Mas não sabia se o encantamento de Harus ainda estava em mim. É como a história de prender um elefante com uma corda fina quando ele é filhote. Ele pode crescer que as mesma corda fina irá continuar funcionando. Tudo porque ele acredita naquilo! Mas essa era a hora de tentar! Se ainda corria sangue Eladrim em mim... essa era a hora! Me concentrei ao máximo e "saltei" da máquina de tortura em que eu me encontrava para o lado de um armorial. Peguei aprimeira espada que vi e com uma habilidade que eu não imaginava ter comecei a lutar com os guardas. Cedric viu aquilo como uma tentativa patética e se resumiu a dizer para seus guardas:
-- Podem corta-lo um pouco mas não o matem! Preciso do sangue dele para rasgar o véu!
Aproveitando a distração que ele causou em seus guardas eu desferi ardilosos golpes mortais em seus pescoços desprotegidos e os levei a obito. Era só eu e Cedric. Nosso combate foi longo, mas ele demosntrou ser muito mais habilidoso doque eu imaginava. Em uma troca rápida de golpes ele acabou acertando um braseiro que derrubou brasas em um monte de palha. Isso iniciou um incendio que começava a corroer todo o madeiramento da masmorra. Logo a estrutura não resistiria e o lugar iria abaixo. Em meio as chamas continuamos lutando. No final derrubei Cedric no poço do pendulo. Desesperado corri até ela que se contorcia no chão de sua cela por causa da fumaça. Consegui olhar para seu rosto pela última vez. Oque eu sentia por ela era tão grande que nem enxergava o trapo humano que ela havia se tornado. As torturas que ela havia sido submetida tinham sido bem piores que as minhas, mesmo assim eu enxerguei sua aura de pureza e bondade quando ele me disse para sumir daquele lugar.
-- Fuja daqui! Viva e seja feliz! Faça isso por nós dois! - me dissse a princesa enquanto o teto começava a demoronar na masmorra enquanto o fogo consumia tudo que podia ser inflamado naquele lugar infecto.
-- Não! Não posso ir sem você! - disse de forma desesperada mas lúcida. Pois sabia que se a deixasse morrer sozinha minha vida se tornaria oque se tornou hoje.
Mas ela me convenceu a "saltar" de lá. Fui tolo ao querer dar esse presente a ela, porque eu não sabia viver no mundo dos homens! Não sem ela!
Após minha fuga o rei teve que abandonar seus planos de aposentadoria. Harus me culpou pela morte de Cedric, cujo corpo nunca foi encontrado para ser ressucitado e desde então vago para os lugares mais inospitos e distantes da corte real. Para que pelo menos eu possa cumprir minha promessa. Sim, se eu ainda vivo é por ela. Mesmo que essa seja a vida mais infeliz de todas, a a única que eu consigo em meu total estado de completa solidão. Uma vez que eu deixei Faeria por causa dela, eu não posso mais retornar. Preso com voces, humanos mesquinhos e de corações enegrecidos, eu apenas consigo acreditar que não existem contos de fada!

2 comentários:

Coturno Velho disse...

Personagem seu?

Arcano 9 disse...

É sim ^^

Tojogand D&D 4ed. com ele.