sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CRÔNICAS DE UM CAÇADOR DE DRAGÕES


Crônica I - Sonhos Dilacerantes



As correntes de aço que prendiam o dragão tilintavam como nunca naquela noite sem lua. A escuridão era ainda maior pela presença do monstro que dentre os de sua raça pertencia aos negros. Esse dragão tinha oito metros do focinho a ponta da cauda. Suas escamas eram massisas e refletiam o brilho das estrelas.


A dez metros do monstro, protegido atrás de uma das três paredes da antiga fortaleza, estava uma figura inexpressiva de olhar perdido e triste. Hiddenheart, o caçador da Ordem da Adaga de Madeira. Seu objetivo naquela noite era provar, de uma vez por todas, que era capaz de vencer um dragão em combate um a um. Afinal essa é era devoção de vida. Que muitas vezes ficou por um fio, depois de sangrentos combates pelos quais havia passado antes desse dia. Mas Heart pensava que dessa vez seria diferente. Ele estava mais experiente e não poderia ser derrotado depois de ter mantido seu desafio em cativeiro por seis longos e agonizantes meses. Onde realizava combates semanais com o monstro. Conhecia os pontos fracos da criatura, bastava alcança-los e fazer com que a criatura sangrasse até a morte. Objetivo que queria cumprir, não por ódio aos dragões e sim pela crença de que essa era a única maneira de provar que era digno de continuar caminhando entre os homens.


Essa era a primeira vez que conseguirá capturar um dragão. A captura para um caçador significa algo como cinquenta porcento da caçada. E atrás da porcentagem final, Heart levanta seu forte corpo de guerreiro, coberto por uma cota de malha e joga o escudo de lado. Decidido a utilizar a técnica do “ataque total” ele sai detrás da muralha, já corroída pelas sucessivas rajadas ácidas do monstro, partindo para cima da criatura para um duelo final...


As cenas seguintes foram rápidas e de uma grandeza poética. Mesmo Heart não conseguindo provar que um reles humano é páreo para um dragão, ele consegue, através de muito sangue derramado, provar que os ideais abrem cicatrizes cada vez mais profundas na própria carne.


Caído ao chão da velha fortaleza com o peito dilacerado pelas garras do dragão negro, que descobrirá se chamar Lyce, e ao ver a criatura romper as correntes, ele se pergunta porque foi derrotado tão perto de seu objetivo de vida. A resposta talvez seja orgulho. Porém Hiddenheart jamais teria certeza pois o monstro, que foi seu único companheiro por seis longos meses, voava para bem longe sem ao menos olhar para trás...

Fim da primeira crônica.

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